segunda-feira, 30 de maio de 2011

Baú Alvinegro : Amor pelo ABC acima de tudo

A história do ABC Futebol Clube deve, obrigatoriamente, dispensar um capítulo à parte ao casal Vicente Farache Netto (1902-1967) e Maria do Rosário Lamas Farache (1906-1949). Ambos foram, sem dúvida, o esteio do clube por quase 15 anos, enquanto foram casados de 1935 a 1949, ano da morte de Maria Lamas. Nesse período, o casal protagonizou um intenso caso de amor com o Mais Querido. O natalense Vicente Farache (filho do italiano José Farache e da brasileira Maria Carmina Farache) sempre teve uma condição financeira privilegiada, pelo fato de seu pai ser um comerciante de prestígio em Natal, no início do século XX. Aos 18 anos foi o ponta direita (bastante limitado) do time que conquistou para o ABC o primeiro título de campeão potiguar. Vendo que não tinha muito jeito para a bola voltou-se para o comércio, além de embarcar para o Rio de Janeiro, onde concluiu o curso de direito em 1927. Anos depois foi promotor público em Natal, e membro do Tribunal Regional Eleitoral/RN.

Vicente Farache e Maria Lamas Farache

Retornando a Natal em 1928 afasta-se definitivamente dos "gramados" (se é que existiam à época) para dedicar-se exclusivamente à condição de dirigente. Nessa função ganha notoriedade, merecendo o título de patrono do clube, devido à sua abnegação e desprendimento. Como diretor técnico conquista o decampeonato potiguar de 1932 a 1941. Também foi responsável pela vinda de grandes jogadores para o ABC, entre os quais: Xixico (primeiro grande ídolo do ABC vindo do Ceará), Dequinha e o grande ídolo Jorginho Tavares (todos de Mossoró), segundo o pesquisador Newton Alves.

Ele não se limitou apenas, à condição de diretor técnico. Tamanho era o seu amor pelo clube, que fazia questão de chamar para si todas as responsabilidades. "Acredito que os presidentes do ABC, durante o período em que o doutor Vicente esteve presente no dia-a-dia do clube, achavam isso muito bom, por ele tomar à frente dos problemas", revela o pesquisador natalense, Luiz G. M. Bezerra.

Assistencialismo – Contratava, dispensava, treinava, pagava os salários, empregava jogadores em suas duas lojas na Ribeira (a de sapatos e tecidos "Vicente Farache Netto" e uma joalha-ria), além de hospedar e alimentar os atletas em dias das partidas, e ainda, comprar o material de treino e de jogo. Para isso, contou com a ajuda dos quatro irmãos, principalmente de Antônio, o Tonho Farache, que com o seu antigo "Ford" transportava os jogadores para onde fosse necessário.

Mas, sem dúvida, o grande lastro de Vicente Farache foi a sua esposa, a chilena Maria Lamas Farache (filha do casal de palestinos Elias e Mercedes Lamas radicalizado no Chile) que por amor ao marido entregou-se de corpo e alma à causa abcdista. "Tinha o jeito de um italiano carrancudo, mas era gentil. Só não falasse mal do ABC na frente dele, aí virava um bicho. Ele vivia para o clube. Mas dona Maria era quem cuidava de tudo dele e também fazia muito pelo ABC", diz Maria Clotilde da Costa Rodrigues, 89anos, a dona Clotilde, que por 18 anos, de 1937 a 1955, trabalhou na Relojoaria Farache, na Ribeira, pertencente aos irmãos Farache.

Quando se casou com Maria Lamas em 1935, Vicente trazia consigo o amor incondicional pelo ABC, incorporado de imediato pela esposa, que conseguiu levar à ala feminina da família Lamas o sentimento de simpatia pelo Mais Querido. "Os meus tios eram quase todos americanos, somente tio Jacob era abecedista. Mas a minha mãe Esther e as outras três irmãs torciam pelo ABC, por conta de tia Maria. Apesar de lados opostos todos conviviam harmonicamente", revela Marco Antônio Fernandes, sobrinho de Maria Lamas Farache. Assim como Vicente, Maria Lamas veio de uma família bastante conceituada em Natal, proprietária de respeitadas casas comerciais no tradicional bairro da Ribeira – A Chilenita e o Armazém Elias Lamas. A família Lamas foi responsável, juntamente com a família Lamartine, pela introdução em Natal, de um dos esportes mais elitizados: o tênis. Nem por isso, deixou de seguir o marido servindo ao ABC no que fosse possível.

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